Como eu sobreviví à uma semana sem reclamar

Esse livro deu origem à ideia de ficar alguns dias sem reclamar. Esse livro deu origem à ideia de ficar alguns dias sem reclamar. Há  um pouco mais de uma semana um amigo do trabalho me mandou um artigo do hypeness entitulado  “O que aconteceu comigo quando tentei ficar 1 semana sem reclamar”. O artigo conta a tentativa do autor de ficar uma semana sem reclamar baseado na experiência de David Cain, e em um livro de Will Bowen. Fui seduzido pela ideia do artigo e não pude resistir a minha vontade de entrar nessa experiência também. Afinal, o que de pior poderia acontecer? Ficar uma semana sem falar sobre ipva ou usar a expressão “Que calor hein” não iria me fazer mal algum. No final, se tudo desse certo eu ainda poderia escrever um post sobre a experiência. No dia seguinte a leitura comecei a experiência, e os resultados me ajudaram a entender a maneira como reajo automaticamente à algumas situações.

Dia 1 - La Poderosa

Eu e minha bicicleta: La Poderosa. EM nossos dias de glória. Esse sou eu e minha bicicleta: La Poderosa. Em nossos dias de glória. Tudo começou bem, acordei bem disposto e peguei La Poderosa, minha querida bike e fui para o trabalho. Faltando 200 metros para chegar no meu trabalho o pedivela se soltou do quadro, impossível continuar pedalando. Situação perfeita para pensar o famoso “Que merda!”, e a vontade de reclamar me fez rir da situação. O que eu queria fazer: Reclamar da bicicleta e do suposto azar. O que resolveu o problema: levei a bicicleta para arrumar numa bicicletaria perto do trabalho.

Dia 2 - Como devolver um produto ruim sem reclamar?

Homem nervoso segurando hambúrguer de uma rede de fast food Minha bicicleta não ficou pronta no mesmo dia, então esse dia fui trabalhar à pé, pois sabia que ir trabalhar de carro iria me expor demais à tentação de reclamar. Coloquei no mp3 um disco que gosto muito, com Gilberto Gil e Jorge Ben cantando juntos. Logo na saída de casa percebo que o fone que tenho a 3 anos só está funcionando de um lado, o lado em que o Jorge Ben canta. Ufa, pelo menos é o meu preferido! rs Passo numa lojinha a caminho do trabalho e compro um fone com pressa. Assim que percebo que o som está saindo pago e levo o fone. Menos de meia Taj Mahal depois percebo que o volume do som é muito baixo e tem ruídos. Voltei a loja e conversei com o vendedor tomando cuidado de não dizer “esse fone é muito ruim” mas “esse fone está muito baixo, percebí agora, você me devolveria o dinheiro?”. O vendedor, mal encarado, acha ruim comigo mas me devolve o dinheiro quando não respondo a sua reclamação.

Entre os dias 3 e 6

Alguns eventos pequenos, daqueles que mal consigo me lembrar hoje (1 semana depois) mas que na hora pareceram muito sérios me ocorreram entre os dias 3 e 6 da minha experiência, como:

  • Dia 3: O “O que que eu ia falar?” fica offline sem explicação faltando 5 minutos pro final do meu expediente.
  • Dia 3: O notebook que ajudei minha namorada a escolher e tem um mês de uso parece que vai esquentar demais.
  • Dia 3: Fico sabendo que assaltaram a casa do meu avô, um senhor de quase 90 anos de idade.
  • Dia 4: A seguradora do meu carro me manda o boleto da última parcela do seguro, ainda bem pois eu quase esquecí a data de pagamento.
  • Dia 5: A Natalia dirige meu carro! (pensei que isso fosse render momentos de tensão, mas ela só provou como o ditado “mulher no volante perigo constante” não tem sentido.
  • Dia 5: Comemoração de aniversário da minha sogra, tudo corre bem até demais.
  • Dia 5: Vou caminhar com minha namorada e cai o maior e mais inesperado chuvão dos últimos tempos e voltamos ensopados pra casa (pra ser sincero eu curtí isso hein).
  • Dia 6: Meu computador começa a dar um erro que o desconecta da internet a cada 5 minutos.
  • Dia 6: Saio para procurar o livro “Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas” para ler e tirar fotos pro post e não tem nas livrarias.

Dia 7 - Hospital público

Tirinha sobre fila de hospital público Ok, não demorou tanto assim rs Nada de descansar no sétimo dia! Para fechar com chave de ouro tive a sorte de ter uma consulta médica marcada nesse dia em um hospital público, nada mais nada menos que o templo nacional da reclamação (altamente justificáveis em sua maioria, devo confessar rs). O calor humano do corredor de espera para ser atendido fica evidenciado pela falta de ventilação no local. Quando vou ser atendido uma senhora me diz

“Pode ir na frente, vou só levar os documentos do meu sogro… Deus que me perdoe, mas esse aí não tem mais jeito”.

Bastante animador, não? Desde o dia 3 eu estava me sentindo mais leve e nem sinto vontade de reclamar como as senhoras ao meu lado que me fazem companhia naquele corredor tão acolhedor!

Dia 7 - Fechando com chave de ouro e sem cadeado

404 - Chave not found, tive que arrombar meu armário rs 404 - Chave not found, tive que arrombar meu armário rs No período da tarde tirei o dia para voltar à natação. Claro que quando eu já estava vestido para entrar na piscina sou avisado que meu exame dermatológico venceu, fiz um novo exame. Quando fui para a piscina acabei ficando bem menos que o esperado, pois o amigo que me acompanhava teve problemas técnicos com seu traje de banho que parecia querer sair na água haha. No caminho do vestiário me dou conta: tranquei minha chave dentro do armário! E agora? Minhas roupas e as do meu amigo estavam lá. Chamei um funcionário que me emprestou um alicate para eu arrombar meu próprio armário. E no final do dia, de bom humor, só pude pensar que ao contrário do que aconteceu com o rapaz do artigo do hypeness, pelo menos nenhuma pomba fez cocô no meu pé.

Conclusões - A melhor parte

A melhor parte dessa experiência foi aprender sobre ela e tirar várias conclusões durante o processo. Neo, o escolhido do Matrix parando balas no ar. Dizem que algumas poucas pessoas já superaram até mesmo a necessidade de desviar de reclamações. Quando alguém te provoca você tem 3 opções: duas mais fáceis e uma mais difícil. A opção mais fácil é rebater aquela provocação no mesmo nível trazendo a tona o pior do velho resmungão que vive dentro de você, outra opção fácil para nosso cérebro é não rebater a provocação, ficar quieto e guardar aquela raiva, o famoso ”engolimento de sapo”. O problema aí é como a prática constante de engolir sapo pode te transformar sem que você perceba naquele chato que ninguém aguenta, nem você mesmo! A terceira opção é a mais difícil mas também a mais saudável. Quando o sapo estiver vindo na sua direção não rebata nem engula, desvie no melhor estilo Neo do Matrix. Eu não estou sugerindo que você seja apático ou conformado, muito pelo contrário. Não precisar reagir a conflitos inúteis e repetitivos vai liberar na sua cabeça um espaço precioso que você pode usar para encarar os seus problemas com mais disposição e energia. Eu passo longe de ser um mestre na prática de desviar do sapo, mas achei muito interessante perceber como uma coisa tão simples como observar minhas reações ao ter que devolver um foninho com defeito me ajudou a perceber algo tão importante. Deixar de reclamar não é sobre deixar de se inconformar com o que está errado, mas sobre não perder seu tempo sendo um velho resmungão! Sempre julgamos nossos reclamações como justas, e muitas vezes elas são e muitas vezes deixamos de buscar o que é certo e justo porque passamos todo nosso tempo reclamando de coisas bobas sobre as quais temos pouco controle.

“Empty your mind. Be formless, shapeless. Be water, my friend.” O fato é que você vai ter dificuldades para lembrar daqui a dois dias de coisas que te tiraram do sério hoje. É tentador pensar “Eu trabalho muito, me esforço bastante, tenho direito de reclamar”. Pois é, só que essa reclamação constante pode viciar a maneira como olhamos para o nosso cotidiano e por consequência para nossa vida e acabamos por deixar de perceber oportunidades e coisas boas que estão a nossa volta. Coisas boas que você percebe com mais facilidade quando sua cabeça tem espaço livre para isso. Meu próximo desafio vai ser a leitura do livro “Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas da vida” que devo resenhar aqui logo em seguida.

Agora é com você.

Você topa o desafio de ficar uma semana sem reclamar de nada? Se sim, já pode começar. Ah, e convide aquele seu (sua) amigo(a) que gosta muito de reclamar, pode ser de grande ajuda. Abraços