Resenha: O ódio que você semeia
Apesar de o livro O ódio que você semeia ser uma história simples, ele é muito impactante. A história de ficção nos leva para nossa realidade da forma mais direta e mais chocante possível. Em “O ódio que você semeia” temos como protagonista Starr, uma adolescente de 16 anos que vive em um bairro pobre e perigoso, onde os traficantes mandam no local e em contra ponto com a realidade de seu local de origem, Starr estuda durante o dia em uma escola cara onde a maioria das pessoas é branca e ela é uma das poucas alunas negras. Starr resolve ir a uma festa e lá encontra seu amigo de infância, Kalil. Depois de uma confusão Kalil resolve oferecer carona para Starr e no caminho para a casa da garota, eles acabam sendo parados por um policial. O pai de Starr a ensinou desde pequena como se portar em frente a policia, sempre respondendo “sim, senhor”, “não, senhor” e com as mãos onde o policial possa ver, para assim, tentar evitar maiores incidentes. Mas, parece que Kalil não teve esses ensinamentos, no mínimo bizarros, em casa. É triste pensar que a cor da pele de uma pessoa, pode mudar toda sua história, mas infelizmente nós sabemos que isso acontece. Por causa de um movimento impensado de Kalil, por causa da cor de sua pele, pelo bairro onde eles estavam e talvez por causa de uma suposição absurda de um policial despreparado, Kalil é assassinado em frente a sua amiga. Starr acaba sendo a única testemunha do crime, e além de estar traumatizada e muito abalada por tudo o que aconteceu, ela se vê em um conflito entre se manter calada ou falar para toda a mídia o que de fato ela viu acontecer na noite do crime. Uma das coisas que mais gostei em “O ódio que você semeia” foi a família de Starr. Seu pai, Maverick, é um dos maiores responsáveis pelo bom caráter da garota. Sua mãe, Lisa, assim como todas as mães, tem seus momentos de surtos e histeria haha, mas é uma excelente mãe e mesmo quando os filhos aprontam, ela sabe a medida certa entre a bronca e o carinho. E por família também tem seus irmãos, tios, avó, a interação entre todos é bem fluida e natural, fazendo a leitura ser muito agradável. No livro “O ódio que você semeia” também conhecemos algumas amigas de Starr e seu namorado branco, para o terror de seu pai haha. Das amigas podemos dar destaque para a desprezível Hailey. Cheia de comentários racistas e maldosos a personagem consegue ser irritante ao extremo, ao contrário de Maya, que por ser chinesa também é alvo das piadas sem graças de Hailey. Mas juntas, Starr e Maya conseguem contornar a situação e deixar Hailey para trás. O livro também tem muitos trechos bem tensos como quando sai o resultado do julgamento do policial e a população sai às ruas. É nessa hora que Starr decide de vez que não adianta ficar se escondendo e se transforma em uma militante.
Engraçado. Os senhores de escravos também achavam que estavam fazendo a diferença na vida dos negros. Que os estavam salvando do jeito selvagem africano. Mesma merda, século diferente. Eu queria que pessoas como eles parassem de pensar que gente como eu queria ser salva.
O titulo original do livro é The hate U give em referencia ao rapper Tupacm que dizia que Thug Life (vida bandida) significava – The Hate U Give Little Infants Fucks Everybody – que significa: O ódio que você passa para criancinhas fode todo mundo. Forte, não? Há tantas partes e detalhes que eu gostaria de escrever sobre o livro, mas que com certeza eu iria acabar soltando muitos spoilers. O ódio que você semeia é um verdadeiro soco na cara. Entre diálogos fofos e engraçados de uma família, a gente é apresentada a temas tão brutais e reais em que vivemos no dia a dia como racismo e preconceito. E é absurdo como uma pessoa pode ser hostilizada pela sua cor da pele e saber que pode entrar em apuros, pela farda do outro. O ódio que você semeia devia ser leitura obrigatória, por mostrar a realidade de forma tão crua e fazer a gente começar a encarar a realidade de frente.